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Portugal: homenagem a Alcino Monteiro


Mário Machado, condenado pelo homícidio de Alcino Monteiro  


Na madrugada do dia 10 de junho de 1995, um conjunto de homens brancos de cabeças rapadas denominados de Skinheads, assassinaram Alcino Monteiro quando convivia com amigos no Bairro alto, naquilo que é um dos mais vis ataques contra negros em Portugal. Em tal acção inúmeros jovens negros foram violentamente agredidos, acabando Alcino Monteiro por morrer, fruto da violenta agressão de que foi vítima.

Podemos perguntar-nos por que razão Alcino Monteiro e os outros jovens mereceram tal tratamento? É manifesto que a característica que ligava de Alcino, aos outros jovens, e que os tornou alvo das agressões foi: serem negros. 

É evidente também que, os que actuaram naquele dia não visavam atingir aquele concreto indivíduo em concreto, mas sim um qualquer elemento daquele grupo étnico, um negro. 

Por isso tal acção merecia uma reacção consciente e consentânea das autoridades policiais, judiciais e políticas de forma a impedirem que tais grupos possam dar seguimento às suas estratégias de violência e repressão contra as minorias negras e não só, mas isso não se verificou. 

A comunicação social não deu a devida cobertura ao acontecimento, tentando mesmo desvalorizar o assunto, invocando a ascendência de Alcino Monteiro, mas este, ao contrário daquilo que fizeram crer, não deixava de ser cidadão português, acima tudo, assim como os homens que o mataram. 

Ainda assim resta-nos reflectir sobre a seguinte questão: se ele fosse francês, alemão, inglês ou espanhol, branco, teria o mesmo tratamento depreciativo que alguma imprensa ao seu caso? Certamente que não! 

O caso resumia-se a uma morte por uma questão racial devendo, deste modo, ter recebido um tratamento justo e digno por parte dos órgãos de comunicação social e pela nossa sociedade em geral. 

Tratava-se de um homem negro, sim. Com uma família comum, sim. Com uma vida comum, sim. Tudo lhe foi roubado covardemente, sim. Pela sua cor.

Infelizmente alguns meios de comunicação social tentam esconder uma verdade crua em Portugal, que há racismo. Que há também acções de Skinheads e Hammerskins contra os negros, a escamoteação de tal facto pelos meios de informação, apenas pioram a situação, mais importante seria debater a questão do racismo na sociedade portuguesa e apontar soluções para este flagelo. 

O racismo é um verdadeiro calvário para as minorias étnicas, que não conseguem colocar os seus problemas na agenda noticiosa, no espectro político ou social, servindo apenas para alimentar os órgãos de comunicação que produzem notícias sensacionalistas, servindo tais órgãos como veículos de agravamento dos seus problemas. 

No meio deste pesadelo, devemos assinalar que alguns movimentos sociais portugueses têm lutado heroicamente contra o racismo numa sociedade onde este assunto é desprezado e ignorado, como se de um assunto de menos importância se tratasse.

Por isso, apelamos aos irmãos e irmãs que, no dia 16 de Junho do corrente ano, compareçam no Restaurante Tijolo (Rua Luciano Cordeiro nº75, Lisboa), pelas 21horas, para todos prestarmos a devida homenagem a Alcino Monteiro. Trata-se de um gesto simples mas que simboliza um dia triste para a nossa comunidade. 

Neste dia em especial, a sociedade portuguesa deveria reflectir sobre a importância da salvaguarda dos direitos da pessoa e, em particular, dos grupos minoritários, direitos que inerem à ideia de Estado de Direito democrático, o Estado português. 

Em nome da paz e da justiça erguemos a nossa voz contra a violência e brutalidade desencadeada no dia de 10 Junho, encarado por algumas franjas da sociedade portuguesa como o dia da raça. 

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Antumi Toasijé

Antumi Toasijé
Doctor en Historia, Cultura y Pensamiento

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